domingo, 3 de julho de 2011

Caminharam lado a lado até o carro sem dizer nenhuma palavra, ambos de cabeça baixa e com cara de poucos amigos. E ele se perguntava como um simples almoço de domingo poderia acabar tão mal. Ela gritava internamente que ele era um grosso, estúpido e mal humorado.

Entraram no carro, ele na direção, claro. Marcos olhou para a mulher e pensou em dizer algo, tentar salvar o que restava do dia, mas o olhar dela estava distante e perdido entre os carros que passavam, e ele achou melhor não dizer algo que poderia, e certamente seria, mal interpretado.

Olhou mais um pouco antes de dar a partida no carro, ela continuava bonita como há oito anos, apenas mais bem vestida e com um semblante mais maduro, que caia muito bem nela. Tentou lembrar em quando pararam de se elogiar. Sentiu vontade de abraçar Carla, pedir desculpas por qualquer coisa que tivesse feito. Ao invés disso, saíram ainda em silêncio.

Carla ainda estava à beira da histeria e pensava nos piores xingamentos. Por um instante lhe ocorreu, “ainda bem que não tive um filho com ele”. Sua espinha congelou a esse pensamento. Será que era verdade? E pior ainda, será que ele pensava o mesmo?



E agora como de costume, ela se sentia culpada. Tinha que perder a paciência tão fácil? Não poderia permanecer calada? Por outro lado achava que ele não deveria ser tão implicante. Ela costumava achar o marido tão inteligente, poderia ficar horas apenas o ouvindo falar. Agora tudo que ele dizia soava pedante. Ele continuava atraente, mas ela havia perdido o interesse nele. Falavam-se muito pouco e quando o faziam, era para destilar alguma mágoa. Mágoa aquela eles não sabiam de onde havia surgido.

De acordo com Carla, o marido não valorizava seu trabalho. “Você brinca de decoração”. Por essa frase, dormiram separados por dois longos meses. Já Marcos, achava a mulher muitas vezes fútil e alheia aos reais problemas do casal.

Ela passou a implicar com suas manias, seus amigos e seus hobbies. E ele não admitia o quanto ela podia gastar com roupas, sapatos, decoração e o que mais aparecesse. Foram ficando distantes. Amargos. Tristes. Os que eram mais próximos do casal, não sabiam o que dizer. Só pensavam que aqueles dois, que eram tão maravilhosos sozinhos, se tornaram insuportáveis juntos. Mais isso ninguém ousava dizer, já era doloroso o bastante para os dois.

Chegaram à garagem do prédio e Marcos por um impulso tomou as mãos da mulher e disse todo choroso, mais até do que gostaria: “Eu sei que as coisas andam difíceis, eu estou todo atarefado no trabalho, você com esse projeto novo, mas depois tudo volta ao normal, não é?”. Ela consentiu com a cabeça sem dizer nada. Apenas se perguntou o que seria o normal? Não soube responder. Eles se tornaram diferentes demais e a paixão a muito havia acabado. Mais ninguém queria jogar a toalha, admitir talvez fosse o mais doloroso. Machucavam-se diariamente, mas ainda temiam desferir o último golpe. Embora suplicassem em segredo que o outro o libertasse. Até onde o medo da partida os levaria? Ainda partilhavam a angústia, que era o único sentimento que os unia.



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